Entrevista com Caju

Guitarras carregadas e batidas intensas se misturam a uma poesia sensível e sofisticada em Turmalina, primeiro trabalho de estúdio de Caju.

Na estreia da cantora capixaba chama a atenção, somos convidados a explorar uma atmosfera densa, introspectiva, mas não menos potente. São canções que trazem a tona cenas e detalhes de um universo que se revela a partir de sombras e alguns feixes de luz.

Resultado desse esforço criativo e estético, surge um trabalho conciso mas que é carregado de identidade, que flui entre a MPB, o rock e a música experimental sem hesitar.

Eu conversei com a Caju sobre o processo de produção EP, suas pesquisas musicais, além das conexões entre as faixas e o trabalho audiovisual que acompanha sua estreia. Confira.

Turmalina é uma pedra que tem forte ligação com a proteção. Como foi o processo pra decidir que esse seria o título do seu trabalho?

Eu acho que foi uma coisa que veio sendo amadurecida. A turmalina negra, que é a pedra a qual faço referência, é da cor preta e preto é a minha cor favorita.

A turmalina negra é preta, mas não é opaca. Ela é reluzente. Então, eu queria algo que flertasse com essa coisa do noturno, do obscuro, mas que não fosse opaco. Que fosse brilhoso.

Eu acho que a pedra, em si, meio que amarra esse conceito e pra mim fez todo o sentido.

Mas, fora desse campo mais objetivo, essa pedra absorve as energias negativas e transforma em coisas boas. Eu achei que seria interessante, para um primeiro trabalho conciso, ter essa pedra como amuleto.

Então, ela tem essas representatividades. Tanto nesse conceito visual, sonoro, estético, quanto essa parte mais mística, da minha parte.

Eu também uso a pedra no meu primeiro clipe, que foi uma versão acústica de Sinestesia,. A pedra tá junto comigo no figurino. Eu achei que seria uma forma de fazer essa conexão entre essas duas roupagens, a partir dessa pedra que passa a ser o título desse primeiro projeto.

O EP traz uma sonoridade bem interessante, mesclando a música brasileira com o rock mais intenso em uma atmosfera mais soturna, densa. Como foi o desenvolvimento dessa sonoridade? O que você estava ouvindo durante a produção e como isso influenciou o resultado?

Foi um processo longo. Acho que desde o momento em que comecei a me entender, enquanto compositora, eu queria entender que estilo musical eu faria. Eu sou estudante de música e sempre gostei muito de pesquisa, de ouvir coisas diferentes.

Então, fiquei pensando: “como que eu faço pra juntar tudo que eu gosto? Eu vou querer fazer MPB? Eu vou querer fazer rock?”

Ao longo do tempo, eu fui entendendo que não precisava necessariamente fazer uma única coisa. Que as coisas podem estar mescladas e que isso seria legal. No momento em que eu tava pensando sobre o assunto, eu conheci o disco da Juçara Marçal, o Delta Estácio Blues.

Quando eu ouvi esse disco eu fiquei “caraca, é exatamente isso”. Ela mistura várias coisas diferentes: música eletrônica, mas com letras muito fortes e muitas referências da música afro-brasileira, sonoridades completamente diferentes.

Esse disco foi muito importante pra eu entender o que eu faria. É como se tivesse chegado no momento em que eu tava caminhando pra encontrar algo e cheguei ali.

Durante a pré-produção, eu e o Henrique Paoli, produtor musical do EP, fizemos vários encontros para ouvir algumas referências juntos. Nós também ouvimos muitas músicas do Taxidermia (inclusive, quem assina a mixagem do EP é o João Meirelles, que faz parte do duo). A gente foi ouvindo muitas músicas de outros artistas também, como, Lous and the Yakuza, que é uma vibe mais trap e rap francês, outra referência muito forte.

O Paoli foi fundamental pra conduzir isso e me incentivou a fazer algo que eu gostasse, sem ficar presa ao que as pessoas esperam. A gente teve muitas conversas sobre isso. Porque muitas vezes eu ficava com medo e, no fim das contas, a gente caminhou para algo que eu sentia que fazia sentido pra mim. Ter tido essas conversas foi muito importante.

Todas essas junções, essas referências, foram muito importantes tanto pro meu desenvolvimento enquanto artista, mas também pro meu desenvolvimento pessoal, de entender que é importante fazer aquilo que faz sentido pra mim.

O EP vem acompanhado de um material audiovisual. Como é a sua relação com essas outras linguagens e como elas se conectam no seu trabalho?

A ideia de fazer um EP visual surgiu do meu processo de composição. Quando tô escrevendo uma música, eu sempre imagino algum contexto, algum cenário, alguma história. Essa história que surge vai me dando ideias pra criar o contexto daquela música e criar o poema em si.

E aí, pensei: por que não transformar esse contexto de inspiração em roteiro, em uma história? E foi isso que aconteceu. O Matheus Washington, que é o diretor desses clipes, e também dirigiu primeiro clipe, me ajudou a transformar esses contos em roteiro.

Eu sempre gostei muito de assistir videoclipes, a minha mente funciona com muita visualidade. Então, eu achei que seria interessante poder compartilhar com o público um pouco do contexto visual que eu estava vendo, ali na minha cabeça, enquanto eu estava compondo as músicas.

Eu acho que isso parte muito dessa questão sensorial que tenho com a música. A música, para mim, é muito visual. Eu enxergo muitas cores, eu penso muito em ambientes. Então, eu queria juntar essa questão visual com a questão sonora.

Tanto a parte visual quanto a parte musical são autossuficientes. Mas, juntas, elas trazem um contexto diferente.

Foi a primeira vez que eu participei de um set tão intenso e a galera entregou um trabalho lindo. Muitas coisas novas foram surgindo a partir do trabalho com essa galera. Eu sinto que me mudou muito enquanto artista também.

Queria saber se você já tem próximos planos... O que vem a seguir?

O que eu pretendo fazer é realmente tocar. O que me motivou a fazer o disco foi a intenção de poder disseminar esse som pelo mundo, por lugares que eu não poderia alcançar nesse momento fisicamente.

Mas a minha intenção, desde o princípio, é tocar, é me apresentar, é poder conhecer novos lugares com o meu som, levar esse som ao vivo para os espaços.

No momento, eu estou fazendo alguns shows pelo Espírito Santo, com formação desse projeto, que é um trio, formado por mim, o Henrique Paoli (guitarra e SPD) e o Samuel Nascimento (bateria).

Eu espero continuar produzindo. Foi a primeira vez que eu lidei com essa coisa de pré-produção, produção, ficar dias em estúdio gravando e tal. Foi uma experiência maravilhosa, eu amei fazer isso.

Para mim, primeiro veio ao vivo e depois vieram as gravações. Então, ter tido essa experiência com as gravações foi muito enriquecedor e é uma coisa que eu quero fazer mais.

Tem som pra tudo. Turmalina é som pra...

Eu acho que “Turmalina” é um som para a noite.

Confira a ficha técnica de Turmalina

Composições de Caju

Produção Musical e Arranjos de Henrique Paoli

Captação de Ricardo Ton

Edição de Áudio de Henrique Paoli

Mixagem de João Milet Meirelles

Masterização de Florencia Saravia-Akamine Gravado no Estúdio de Música da UFES

Afago

Caju: Vozes

Igor Morais: Baixo

Henrique Paoli: Bateria e Guitarras

Sinestesia

Caju: Vozes

Igor Morais: Baixo

Igor Cowosque: Guitarras

Henrique Paoli: Bateria e Synth

Noite Vazia

Caju: Vozes

Henrique Paoli: Bateria, Guitarras e Synths

Efêmero 

Caju: Vozes

Henrique Paoli: Bateria, Guitarras e Synths

Veneno

Caju: Vozes

Igor Morais: Baixo

Henrique Paoli: Bateria, Guitarras e Synths

Confira a ficha técnica de EP Visual

História: Caju

Direção, montagem e cor: Matheus Woshington

Assistência de direção: Mariana Costa

Roteiro: Matheus Woshington | Caju

Direção de fotografia e operação de câmera: Alexandre Viana

Produção executiva: Caju | Mariana Costa

Direção criativa: Rawier Queiroga | Caju | Mariana Costa

Direção de arte: Júlio Cesar

Assistência de arte: Rawier Queiroga

Direção de figurino e figurinista: Lua Alice Falcão

Produção de figurino: Ateliê Oió | Tales de Almeida | Lua Alice Falcão

Maquiagem e cabelo: Vitor Lisboa

Cabelo: O Grego

Produção de set: Jhenefer Tolentino | Jenni Prélio | Gabriela Silva

Figuração: Jhenefer Tolentino

Gaffer: Marcus Supeletto

Assistente de elétrica: Elton Supeletto

Substituto de elétrica: Gabriel Lannes

Segurança: Sérgio Oliveira | Rodrigo Almeida

Designer gráfico: Rawier Queiroga

Still e making off: Bele Colares

Foto de divulgação: Matheus Woshington

Locações: Casa Caos, Stael Mageski Centro Artístico, Bar Cochicho da Penha

Agradecimentos especiais: Claudio Nogueira, Rozimeires Zanetti, Marcus Neves, Maria do Carmo, Lab Vídeo UFES, Joabson Rocha, Yan Veiga e Romulo Quinelato

Projeto realizado com recursos do Funcultura por meio da Secretaria de Cultura do Espírito Santo.

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