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Entrevista com Luiz Barata

Sem saber, Luiz Barata tem um lugar especial nessa newsletter. Quem acompanha desde o início, sabe que a estreia do rapper carioca também fez parte da estreia do projeto.
“Não Matem As Baratas” foi o primeiro disco a ser resenhado e faixa #1 da nossa playlist.
Irreverente, elegante e original, o artista flutua entre estilos com naturalidade, fazendo temas complexos se tornarem acessíveis através de uma sonoridade simpática e cativante.
Embora não seja um atributo muito usado para descrever artistas do hip-hop, a simpatia é o grande trunfo de Luiz Barata, que consegue nos transportar para seu universo lírico sem dificuldades.
“Pragas Urbanas”, segundo disco do rapper, lançado nesta segunda-feira, é um passo adiante neste universo, aprofundando sua identidade artística e renovando a assinatura musical que faz seu som ser tão marcante.
Eu conversei com o Luiz Barata sobre o novo álbum, sua pluralidade de referências e a relação com o MPBP, projeto que em pouco tempo construiu uma grade base de fãs no YouTube. Confira.

Imagem: Luiz Barata/YouTube/Reprodução
Não tem como começar a entrevista de outro jeito: por que Luiz Barata?
É por causa do meu avô, mano. Ele tem “Barata Ribeiro” no nome e é uma pessoa muito especial na minha vida. Foi um dos primeiros malucos a me olhar fazendo algum tipo de arte e me incentivar, parar e ouvir o que eu tinha pra apresentar, no momento.
Então, ele foi muito importante pra minha formação de autoestima. E minha mãe não botou “Barata” no meu nome, tá ligado? Eu sou só “Ribeiro Cardoso”. Mas, na hora que eu fui buscar um nome artístico, eu decidi usar Luiz Barata em homenagem a ele. Depois disso eu comecei a entrar nessa brincadeira com as baratas e, nesse disco novo, eu entro mais nessa doideira de ser uma barata.
Seu primeiro disco é bastante plural, explora várias possibilidades do rap. A ideia era mostrar essa sua versatilidade? Qual era a intenção?
Foi totalmente intenciona. Quando eu comecei a fazer esse primeiro disco, eu tava tendo um contato muito forte com o pop e com o mainstream. Foi o meu momento estudando o mainstream, ouvindo bastante, gostando de algumas coisas mais, outras menos.
Aí, eu tive vontade de fazer um um disco muito pop. Não necessariamente na temática, mas eu queria que a sonoridade soasse parecido com as coisas que eu tava ouvindo na época. Eu queria ver como é que ia ficar o meu pop, tá ligado? E hip hop, logicamente. Mas, não é um hip hop tão cru assim. Acho que tá muito mais na casa do pop do que do hip hop.
Por isso teve tanta essa variedade, sabe? Eu consegui pegar aquela atmosfera e trazer pra dentro da minha realidade, do meu mundo. E aí eu fui experimentando muito. Eu ia lá e pensava: “tô com vontade de produzir isso”. Aí eu ia lá e produzia, já escrevia, gravava e foi mais ou menos assim o processo com tudo.
Existe uma força colaborativa bem interessante entre a galera que, de alguma forma faz parte do MPBP (Músicas Pra Balançar o Pescoçin), né? Como é essa interação e qual a impressão dessa coletividade pro seu som?
O MPBP é meu norte. Eu me uni ao Nico, que foi quem iniciou o projeto, com o primeiro set pra divulgar o EP da APV, e o negócio tomou uma proporção que nem imaginávamos.
Hoje em dia, eu trabalho com o Vinícius como sócio, a gente toca o projeto juntos. Lógico que é um projeto dele, mas eu ajudo ele na parte burocrática da coisa. A gente trabalha de segunda a sexta para botar as coisas para acontecer: gerir minha carreira, a carreira dele e os projetos do selo.
Então, o MPBP é minha base. É o que me faz me sentir útil. É o bagulho que ocupa meu dia a dia com trabalho real, sabe? Então, a gente fez essa força-tarefa para alimentar nossa vida de trabalho e alimentar nosso trabalho de ações, de coisas acontecendo.
E na música, me influencia muito como uma resposta. Eu sinto a resposta do público por lá, é onde está a minha base de fãs, as pessoas que realmente escutam meu trabalho. Eu vou lá sempre consultar e entender o que meu público está querendo ver de mim.
Aí, de acordo com a minha verdade, a forma que eu enxergo, eu tento fazer algo para agradar também esse público. Sempre priorizando a minha vontade primária, mas sabendo que, se a minha vontade de alguma forma colidir com essa vontade do público, vai funcionar bem, tá ligado? Lá é o meu termômetro mesmo.
Por outro lado, agora você lança seu segundo disco solo. Embora repleto de participações, qual que é a sensação e a expectativa com Pragas Urbanas?
É basicamente o que eu falei daquele termômetro, tá ligado? Eu estava reparando que esse público, lá no MPBP, tava abraçando muito minhas faixas no boom bap. E isso já era uma coisa que naturalmente eu estava fazendo. Aí, eu senti essa necessidade.
O primeiro disco foi uma coisa menos linear. Tipo, “vou desabafar um pouco e botar no mundo”. Esse segundo disco já foi um pouco mais planejado. Mais bem feito e ao mesmo tempo dando algo que o meu público quer ouvir, que é um disco de boom bap.
Eu produzi esse disco com muita referência da minha própria banda, a LOKETI. A gente faz um rock meio misturado com ritmos brasileiros e eu me referi muito a essa mistura, sabe? Eu falei: “tá bom, vou fazer um disco de boom bap, mas com a minha cara. Não vou fazer um boom bap clássico e tudo mais”.
Tem muita influência do rock dos anos 90, aquela pegada que mistura as coisas, e eu flertei muito com reggae nesse disco também. Acho que consegui fazer algo linear a ponto do gênero musical não ser tão importante assim. Mas é majoritariamente boom bap.
Foi um disco que eu elaborei, fiz uma história com início, meio e fim. Ele tem uma ordem que, se ouvida dessa forma, faz mais sentido. As faixas funcionam sozinhas, não são coisas dependentes. Mas, por exemplo, tem três skits pra amarrar a história. Tem coisas bem características dos discos de hip hop das antigas também. Eu quis trazer isso e alimentar essa estética, que é a parada que o meu público consome mais lá no MPB.

Imagem: Instagrama/Reprodução
O que motivou as canções do novo disco? Tem alguma tema que conecta as faixas?
O disco se passa num mundo distópico, onde só existem baratas e seres humanos. Eu faço uma brincadeira, como se nós, as baratas, fôssemos a classe trabalhadora e os seres humanos, os donos dos meios de produção.
O eu lírico sou eu mesmo. Mas, como se eu fosse uma barata vivendo aquela realidade. Então, o disco conta sobre como a gente vai se enxergando no mundo. Vão acontecendo revoltas, acaba rolando uma guerra e isso vai se desenrolando.
Mas é basicamente isso. Tipo, as baratas se entendendo no mundo. Onde são esses esgotos que elas habitam? Por que elas estão lá, sendo que elas são seres mais antigos do que os seres humanos? O disco tem início, meio e fim, mas eu prefiro deixar abertas interpretações.
Eu piro um pouco nessa onda das baratas. Mas não de forma tão literal assim, tá bem nas entrelinhas. Ainda é um disco pessoal, mas com uma narrativa que liga todas essas faixas.
De onde veio essa ideia de criar um universo distópico? Eu vejo muito isso na literatura… Você já vinha pensando nessa proposta?
Desde o “Não Matem as Baratas”, eu já recebi muitas perguntas: “por que não matar as baratas?”. Eu já troquei muito essa ideia com várias pessoas e eu senti necessidade de aprofundar isso, entrar mais nessa brincadeira.
Fazendo o disco, começaram a surgir algumas frustrações — assim como todos nós sentimos, né? Eu fui expressando isso e entendendo que, dentro desse universo, as baratas se encaixavam de uma forma muito mais forte.
Foi uma ideia que surgiu meio que de brincadeira, só que acabou se manifestando de forma muito mais séria do que eu imaginava. Tem muito da minha visão política sobre o mundo, mas não é necessariamente focado nisso. É mais uma história mesmo, que acaba sendo política porque toda história é política.
Me conta um pouco sobre as referências que influenciaram a nova produção?
Eu foquei mais especificamente nesse rock dos anos 80, que tem a mistura como principal característica. Então, o Rappa foi uma puta referência para o processo de produção.
Eu estava ouvindo muito Bob Marley, na época, acho que as ideias podem acabar batendo bastante. Inclusive, tem duas faixas com referências a músicas dele no nome, “Nós Não Precisamos de Mais Problemas” e “Babilônia Seu Trono Enfim Caiu”.
Uma delas é realmente o título de uma música e a outra, uma frase de uma canção. Eu estava ouvindo muito, então o discurso acaba se assemelhando. A história até passa por uma parte mais voltada para a filosofia Rastafari e tudo mais.
Mas, acho que a principal referência de sonoridade mesmo foi O Rappa, Planet Hemp, Sublime, Rage Against the Machine. Essas bandas que misturavam e esse momento do rock onde o hip hop entrou. Eu quis fazer um disco com essa sonoridade para ser mais forte ao vivo, mais pesado.

Tem som pra tudo. Pragas Urbanas é som pra... (Complete)
É som pra um pouco de tudo. Pode escolher, cada faixa tem uma possibilidade, eu acho que tá bem plural. Dá pra fazer o que você quiser ouvindo esse disco.
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